segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Semente

A palavra é como uma semente
Que germina no silêncio.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Katana


Katana
À Carlos Izumo (nos quintos do japão)

O homem deve ser como uma inquebrantável
Espada japonesa; ser coberto pelo metal mais duro,
Mas conservar seu cerne dobrável
Como o amálgama mais puro.

A cada golpe recebido a lâmina perfura
Mais profundamente o obstáculo mais denso;
Pois que a vida toda é uma armadura
Forjada do tempo imenso.

No entanto tua lâmina não sofre dano;
Pois escondido no metal mais resistente
Está o cerne que amortece o choque.

E embora a lágrima de teu olho desemboque,
Pensa nela como uma gema excedente
Que escorre do teu coração humano.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Declaração última

É por isso que agora me calo, pois se me faltam dedos para ti tocar, ao menos posso ti fazer cócegas com o meu silêncio.

Declaração segunda

O silêncio nada mais é do que palavras contorcionistas, que de tanto eu dobrar para ti dizer, por não serem em linha reta, acabam não entrando em teu ouvido, fazendo nele cócegas, para que não fiques tão tímida quando me calo.

Declaração primeira

Guardo as palavras que me destes embrulhadas na forma de silêncio, como um origami, pois como as horas dobradas sobre si formam a eternidade, tuas palavras contorcidas deixam seus espaços vazios a mostra.

O criador de metáforas I

Antes dele só existiam pedras, flores, árvores, como substantivos concretos destituídos de adjetivos que ficavam em outro reino distante como belo, duro, feio e verde... Entre eles não havia nenhuma correspondência ; não havia nenhum laço que tornasse evidente que uma árvore tinha folhas verdes, ou que uma flor era cheirosa.

Um beijo era sempre um beijo, não podia ser molhado ou seco, quente ou frio, era simplesmente um beijo. Um jovem poderia elogiar uma moça no máximo dizendo que ela era uma moça, nada de adjetivações como bonita, sedosa ou sensual.

Daí, do nada apareceu um jovem dizendo para o espanto de todos que uma folha era verde, e de que a moça era bonita, o que fez a moça corar evidentemente a um elogio tão excêntrico. A notícia se espalhou como fogo pela cidade que ficava a meio
caminho do reino dos substantivos e do outro reino dos adjetivos.

Correspondentes dos dois reinos foram mandados a pequena cidade, que mais parecia um vilarejo com repreensões a quem atribuísse um adjetivo a qualquer que fosse o substantivo, mas a situação era irreversível; as pessoas não queriam mais que os dias fossem apenas dias, mas que fossem lentos ou curtos, alegres ou tristes; as velhinhas queriam se queixar que seus ossos eram frágeis e de que suas mãos eram delicadas demais para pegar diretamente nos substantivos.

Do nada no pequeno vilarejo começaram a acontecer incêndios imaginários, eram as cartas de amor que eram trocadas entre os jovens amores, que encontraram o mais caro dos presentes: os enfeites da almas, os adjetivos... Colhiam eles como se fossem flores; havia sempre uma desculpa para colocar um deles nos cabelos das moças... E eles se despetalavam em sussurros que ecoavam no ouvido da amada como um eco que reverberasse nas paredes do tempo. As frases se desfazendo pouco a pouco em palavras, as palavras se despedaçando em sílabas cada vez menores até o miolo que era o silêncio.

Apesar dos incêndios imaginários as pessoas não entraram em pânico, já estavam extasiadas com o novo mundo que aparecia aos seus olhos. O vilarejo ganhava novos ares, as casas já podiam ser distinguidas umas das outras em feio ou bonito, na nuances das cores, nos musgos que cobriam os músculos de madeira imóveis da casa... Ah! Apareceram as primeiras casas tortas, retas, aconchegantes... O lar agora aconchegava não somente as pessoas dentro do seu nome, mas também os significados novos que ganhava dos seus moradores...

Mas apesar da incontrolável febre dos adjetivos, os substantivos não conseguiam entrar de comum acordo com os adjetivos, pois para eles uma coisa não podia estar contida na outra, dois corpos não podiam ocupar o mesmo lugar no espaço...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Metáfora geométrica

Meus versos são linhas paralelas
Que se cruzam no infinito dos teus olhos.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Primeira metáfora

Uma simples metáfora, que acabou virando
um haicai sem querer...


A vida um fio desenrolado da vestes do tempo,
que aos poucos nos despe da vida ao longo dos anos
para que possamos agasalhar nosso coração.