quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Fragmentos

Outra vez o desengano a fragmentar nosso corpo, para que nunca o
tenhamos inteiro em tempo algum. O toque, que guarda do atrito o calor
sem a sua aspereza; que deixa na outra superfície apenas os seus
pedaços imaterias, que saem se quebrando em pequenas sensações em teus
pêlos, como um isopor ao contato com o muro áspero. Mas quando ti
estratificas em pequenas camadas que se perdem de vista não és mais
que uma cebola que se divide para esconder sua essência. Mas que mesmo
assim, que terna cebola...

E que importa que todos estejam ao teu lado, se mesmo com todas as
palavras ao seu redor, o "O" se sente vazio... Nenhuma palavra pode
preenchê-lo, pois sua essência está repleta de vazio. E a mulher mais
que todos os outros seres se faz repleta de vazios, que se desdobram
em tudo quanto existe.Pois tua boca a forma de um fruto enterrado em
teu rosto faz germinar a palavra, como uma lâmina que entalha o ar
dentro dela ao jogá-lo por entre teus dentes. Ninguém se apercebe da
beleza quando tu emite tuas palavras, és uma artesã do vento, daquilo
que a mão não pode segurar senão quando aberta.

E se assim as palavras forem espinhos em tua garganta, é porque então
ela é uma rosa ao avesso que floresceu no botão vermelho de tua boca.

domingo, 11 de setembro de 2011

Ser medieval

Teus olhos foram escritos em iluminuras
Onde um monge debruçou suas ternuras;
Fonte eterna para os corações de esperança
Colheita que apenas nos encantos do sonho descansa.

Teu toque é charrua a semear carinho,
Segue delicada por invisível caminho
Que desabrocha na boca em suspiros;
Palavras que se despem de suas roupas como lírios.

Em teus lábios se delineia a canção,
Como na terra se sabe da colheita
Pelos rastros onde a chuva se deita.

E quando em tua boca perfeito encaixe
Faz com que ela em beijo se rache;
Canta tua língua nos enlaces de teu coração.