quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Da distância

Mas as bocas se partem como fruto maduro
Que deixasse a semente do silêncio
Semeada em nossa distância.

Sakura


Teus lábios vermelhos esmaecidos em tua face
São como as pétalas de uma Sakura
Que na eternidade de um beijo que pouco dura
Toda a árvore desfolhasse.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Silêncio

...Porque o silêncio é só mais uma dobra do indizível

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Metáfora espontânea

Estive a conversar com uma amiga que nunca vi, via msn, a conversa foi fluindo até que estávamos falando sobre instrumentos musicais, especificamente sobre um pandeiro. Instrumento que é bastante estigmatizado geralmente, e ela me contou que o melhor presente que recebeu do namorado foi um pandeiro, pois ela tinha um de estimação que deu de presente para um amigo, ficando assim sem sua companhia barulhenta, e me perguntou se eu não sabia de nenhum instrumento; disse que não, que queria aprender violão ou mesmo violino (apesar do menor sucesso com as mulheres), então ela disse uma frase simples, disse-a como se dá um sorriso involuntário a quem se gosta:

Ela-Você toca algo?

Eu-Nadinha

Eu-Tentei violão, mas nem

E finalmente ela;

-Toca o coração dos outros então,já é uma boa batida.

Fez meu dia mais feliz. =)

sábado, 3 de julho de 2010

O que ela disse...

E ela dobrou tanto as palavras na boca, que quando foi dizer a ele entregou um origami de silêncio em suas mãos, mas que era tão delicado que não se via uma dobra sequer, de papel tão sutil que nem se percebia a cor e de tal leveza que um suspiro desfez.

domingo, 6 de junho de 2010

Dor desconhecida

Dor desconhecida

Vês que tens dia que todo mundo
Recai sobre nossos frágeis ombros;
Tentamos nos achar e nos perdemos em escombros
Que se espalham como nossas lágrimas em profundo

Silêncio, ninguém as ouve. Ninguém entende
Como pode um rio transbordar do fundo da terra,
Pois é assim que nossos olhos fazem quando se encerra
E corre por debaixo de seu olhar a dor que ninguém compreende!

Apenas o peito quando se torce em si mesmo
É que pode se entender, falar é atirar a esmo
Teus sentimentos; são pétalas colhidas por teu anjo

Que delicado as coloca outra vez na rosa
Da vida que mesmo vacilante desabrocha vistosa
Para sem palavras nos fazer entender seu sutil arranjo.

N.N.F.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Negro


O negro de teus olhos se apaga aos pedaços;
A luz em teus olhos é uma lanterna
Que se afundou num lago profundo
E no leito de tua alma repousa eterna.


Me alimento de poesia, pronto, falei!

O carroceiro


Nas latas cheias de vazio, esquecidas
Nos cantos da calçada, que apenas despedidas
Cantam, enquanto as letras embalsamadas
Dos jornais de ontem suspiram.

Enquanto ainda o Sol nasce, ele percorre
O caminho de nossas memórias. Onde em cartas escorre
As lágrimas que nunca foram mais derramadas;
Que se unindo a tinta de nossos desejos resistiram.

Tudo foi desperdiçado, esquecido, descartado
No desconsolo do esquecimento; nos cantos
De nossos lábios tristonhos...

Mas por cada coisa nossa se sente amado,
O carroceiro que recolhe de manhã nossos prantos
E deixa cair de sua carroça abarrotada, sorrindo, nossos sonhos...

sábado, 1 de maio de 2010

O banco (imagem de Larissa Botto)




O banco

Ninguém mais nele do tempo se ausenta;
Não mais olhares trocados em seu conforto,
Apenas a solidão o encontra, e senta,
Vendo ainda vida naquele banco morto...

Não mais à sombra dos sonhos os beijos
Se aconchegam no mais terno segredo
Que se contava no silêncio dos desejos
Das línguas que se calando falam sem medo...

Se perderam nos caminhos da indiferença
As mãos que antes percorreram os espaços
De nosso peito, preenchendo-o com sua presença...

É esse nosso próprio mundo, onde nossos abraços
Não conseguem mais fechar; e que a alma imprensa,
Quando nos deixa livres em seus imóveis braços...


Obs.: É na poesia que eu vejo toda a beleza da língua portuguesa, nas suas metáforas, nas formas e sonoridade das palavras. Quando visualizo a forma de um poema, sua silhueta que se delinea de linha em linha é que percebo o quanto nossa língua é robusta.

Talvez seja a poesia uma das expressões mais genuínas de nossa língua, aonde ela vai buscar seu ritmo próprio, sua natureza enfim. Foi aqui no Brasil que o concretismo surgiu com mais força; somos referência a respeito do nosso movimento mais genuíno no campo da poesia, que é tão desconhecido e desvalorizado pelos brasileiros.

É em nossa língua enfim que atapetamos o piso aonde nossa palavra vai pisar.

Presentes imersos

Esse poema dediquei a Lúcia Gonzcy, grande poetisa de imensa sensibilidade, e de um estilo de poesia bem diverso do meu. O poema dela escorre como um pequeno fio d`água e se avoluma num rio de idéias.

Presentes imersos

Quando fores dormir, desenlaça teu cabelo
E rasga aos poucos de teus olhos a luz
Com os dedos de tuas pálpebras, entrelaçando com desvelo
Os sonhos que entre cada cílio pus.

Sonhos que coubessem no piscar de teus olhos, canto
Que sussurrasse em teus ouvidos os ecos do infinito;
Como as conchas do mar, que são como um coração aflito
Que vazio se enche de ausência, a ecoar nosso próprio pranto!

Suja tua mão ao toque desses versos, dispersa em teus dedos
A poesia, sorve em teus lábios o que o poema balbucia
Pela boca que se move por teus olhos, a ti negar segredos...

Sentes a fragrância que evola dos poros destes versos;
Da pele que recobre toda minha poesia
Deixando em ti meus presentes imersos...

Nícolas N.F

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Amizade

Um dos sentimentos mais inexplicáveis do mundo;
Basta um aperto de mão, um olhar para cair com os pés no chão
No abismo mais profundo;
Cavado dentro de nosso coração!

Basta uma lembrança tua; uma imagem, um gesto...
A flor só precisa da madrugada pra derramar seu orvalho,
Assim como minha alegria só precisa de um sorriso modesto
Para caminhar até tua presença por esse atalho...

A amizade é o mais incerto dos sentimentos;
Molda-se tão certa como as águas de um riacho...
Pode desembocar nela mesma, ou no amor...

Deixa para trás todos os sofrimentos;
E corre escondendo em si, lá embaixo,
As lágrimas de tua dor...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Palavras

As palavras cortam o invisível
E deixam no silêncio relevos
Que ao toque mais sensível
Se desmancham em enlevo.

As palavras moldam o transparente
Como um vidro intocável
Que quebra num grito de repente,
Ou num suspiro se torna insustentável.

O silêncio é como uma carcaça
Com o esqueleto das palavras exposto
Sem nossa voz a dar movimento nem graça.

A palavra é um abismo ou ponte,
O abismo como ponte inclinada ao gosto
Do infinito, que dos nossos lábios desponte.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ponte japonesa


Ponte japonesa

Tua arquitetura busca a harmonia
Das tuas formas com a natureza;
Teu corpo, suave melodia,
Que ecoa de seus acordes pura beleza.

Em tua boca vive a filosofia budista;
Guarda a simplicidade de teus lábios
Os ensinamentos mais profundos dos sábios
Quando dispersas teus risos altruístas...

Teus risos são canções silenciosas ao céu;
Como os telhados de templos xintoístas
Que se curvam ao chão buscando o céu...

Teu olhar, como uma ponte japonesa,
Se curva diante de infinitos minimalistas
Como a luz no fundo das águas acesa...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Outro vidro

De todas as coisas,
a única que quando quebra, faz silêncio,
é a palavra...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Metáforas

Desnuda as palavras das vestes
Rasgadas pelas bocas insensíveis;
Dá-lhes a roupa que pusestes
Em teus sonhos impossíveis.

Sua linha costurada no verso
Por agulhas de linhas infinitas
No lápis que cria furo diverso;
Nas letras, argolas de malabaristas.

Argola que tua língua toca
E seu sentido do comum desloca
Quando uma na outra enfias.

Abraço que o vazio esmaga;
Um coração no outro afaga
Uma nota de duas harmonias...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Semente

A palavra é como uma semente
Que germina no silêncio.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Katana


Katana
À Carlos Izumo (nos quintos do japão)

O homem deve ser como uma inquebrantável
Espada japonesa; ser coberto pelo metal mais duro,
Mas conservar seu cerne dobrável
Como o amálgama mais puro.

A cada golpe recebido a lâmina perfura
Mais profundamente o obstáculo mais denso;
Pois que a vida toda é uma armadura
Forjada do tempo imenso.

No entanto tua lâmina não sofre dano;
Pois escondido no metal mais resistente
Está o cerne que amortece o choque.

E embora a lágrima de teu olho desemboque,
Pensa nela como uma gema excedente
Que escorre do teu coração humano.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Declaração última

É por isso que agora me calo, pois se me faltam dedos para ti tocar, ao menos posso ti fazer cócegas com o meu silêncio.

Declaração segunda

O silêncio nada mais é do que palavras contorcionistas, que de tanto eu dobrar para ti dizer, por não serem em linha reta, acabam não entrando em teu ouvido, fazendo nele cócegas, para que não fiques tão tímida quando me calo.

Declaração primeira

Guardo as palavras que me destes embrulhadas na forma de silêncio, como um origami, pois como as horas dobradas sobre si formam a eternidade, tuas palavras contorcidas deixam seus espaços vazios a mostra.

O criador de metáforas I

Antes dele só existiam pedras, flores, árvores, como substantivos concretos destituídos de adjetivos que ficavam em outro reino distante como belo, duro, feio e verde... Entre eles não havia nenhuma correspondência ; não havia nenhum laço que tornasse evidente que uma árvore tinha folhas verdes, ou que uma flor era cheirosa.

Um beijo era sempre um beijo, não podia ser molhado ou seco, quente ou frio, era simplesmente um beijo. Um jovem poderia elogiar uma moça no máximo dizendo que ela era uma moça, nada de adjetivações como bonita, sedosa ou sensual.

Daí, do nada apareceu um jovem dizendo para o espanto de todos que uma folha era verde, e de que a moça era bonita, o que fez a moça corar evidentemente a um elogio tão excêntrico. A notícia se espalhou como fogo pela cidade que ficava a meio
caminho do reino dos substantivos e do outro reino dos adjetivos.

Correspondentes dos dois reinos foram mandados a pequena cidade, que mais parecia um vilarejo com repreensões a quem atribuísse um adjetivo a qualquer que fosse o substantivo, mas a situação era irreversível; as pessoas não queriam mais que os dias fossem apenas dias, mas que fossem lentos ou curtos, alegres ou tristes; as velhinhas queriam se queixar que seus ossos eram frágeis e de que suas mãos eram delicadas demais para pegar diretamente nos substantivos.

Do nada no pequeno vilarejo começaram a acontecer incêndios imaginários, eram as cartas de amor que eram trocadas entre os jovens amores, que encontraram o mais caro dos presentes: os enfeites da almas, os adjetivos... Colhiam eles como se fossem flores; havia sempre uma desculpa para colocar um deles nos cabelos das moças... E eles se despetalavam em sussurros que ecoavam no ouvido da amada como um eco que reverberasse nas paredes do tempo. As frases se desfazendo pouco a pouco em palavras, as palavras se despedaçando em sílabas cada vez menores até o miolo que era o silêncio.

Apesar dos incêndios imaginários as pessoas não entraram em pânico, já estavam extasiadas com o novo mundo que aparecia aos seus olhos. O vilarejo ganhava novos ares, as casas já podiam ser distinguidas umas das outras em feio ou bonito, na nuances das cores, nos musgos que cobriam os músculos de madeira imóveis da casa... Ah! Apareceram as primeiras casas tortas, retas, aconchegantes... O lar agora aconchegava não somente as pessoas dentro do seu nome, mas também os significados novos que ganhava dos seus moradores...

Mas apesar da incontrolável febre dos adjetivos, os substantivos não conseguiam entrar de comum acordo com os adjetivos, pois para eles uma coisa não podia estar contida na outra, dois corpos não podiam ocupar o mesmo lugar no espaço...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Metáfora geométrica

Meus versos são linhas paralelas
Que se cruzam no infinito dos teus olhos.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Primeira metáfora

Uma simples metáfora, que acabou virando
um haicai sem querer...


A vida um fio desenrolado da vestes do tempo,
que aos poucos nos despe da vida ao longo dos anos
para que possamos agasalhar nosso coração.