terça-feira, 25 de maio de 2010

Negro


O negro de teus olhos se apaga aos pedaços;
A luz em teus olhos é uma lanterna
Que se afundou num lago profundo
E no leito de tua alma repousa eterna.


Me alimento de poesia, pronto, falei!

O carroceiro


Nas latas cheias de vazio, esquecidas
Nos cantos da calçada, que apenas despedidas
Cantam, enquanto as letras embalsamadas
Dos jornais de ontem suspiram.

Enquanto ainda o Sol nasce, ele percorre
O caminho de nossas memórias. Onde em cartas escorre
As lágrimas que nunca foram mais derramadas;
Que se unindo a tinta de nossos desejos resistiram.

Tudo foi desperdiçado, esquecido, descartado
No desconsolo do esquecimento; nos cantos
De nossos lábios tristonhos...

Mas por cada coisa nossa se sente amado,
O carroceiro que recolhe de manhã nossos prantos
E deixa cair de sua carroça abarrotada, sorrindo, nossos sonhos...

sábado, 1 de maio de 2010

O banco (imagem de Larissa Botto)




O banco

Ninguém mais nele do tempo se ausenta;
Não mais olhares trocados em seu conforto,
Apenas a solidão o encontra, e senta,
Vendo ainda vida naquele banco morto...

Não mais à sombra dos sonhos os beijos
Se aconchegam no mais terno segredo
Que se contava no silêncio dos desejos
Das línguas que se calando falam sem medo...

Se perderam nos caminhos da indiferença
As mãos que antes percorreram os espaços
De nosso peito, preenchendo-o com sua presença...

É esse nosso próprio mundo, onde nossos abraços
Não conseguem mais fechar; e que a alma imprensa,
Quando nos deixa livres em seus imóveis braços...


Obs.: É na poesia que eu vejo toda a beleza da língua portuguesa, nas suas metáforas, nas formas e sonoridade das palavras. Quando visualizo a forma de um poema, sua silhueta que se delinea de linha em linha é que percebo o quanto nossa língua é robusta.

Talvez seja a poesia uma das expressões mais genuínas de nossa língua, aonde ela vai buscar seu ritmo próprio, sua natureza enfim. Foi aqui no Brasil que o concretismo surgiu com mais força; somos referência a respeito do nosso movimento mais genuíno no campo da poesia, que é tão desconhecido e desvalorizado pelos brasileiros.

É em nossa língua enfim que atapetamos o piso aonde nossa palavra vai pisar.

Presentes imersos

Esse poema dediquei a Lúcia Gonzcy, grande poetisa de imensa sensibilidade, e de um estilo de poesia bem diverso do meu. O poema dela escorre como um pequeno fio d`água e se avoluma num rio de idéias.

Presentes imersos

Quando fores dormir, desenlaça teu cabelo
E rasga aos poucos de teus olhos a luz
Com os dedos de tuas pálpebras, entrelaçando com desvelo
Os sonhos que entre cada cílio pus.

Sonhos que coubessem no piscar de teus olhos, canto
Que sussurrasse em teus ouvidos os ecos do infinito;
Como as conchas do mar, que são como um coração aflito
Que vazio se enche de ausência, a ecoar nosso próprio pranto!

Suja tua mão ao toque desses versos, dispersa em teus dedos
A poesia, sorve em teus lábios o que o poema balbucia
Pela boca que se move por teus olhos, a ti negar segredos...

Sentes a fragrância que evola dos poros destes versos;
Da pele que recobre toda minha poesia
Deixando em ti meus presentes imersos...

Nícolas N.F