segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Buquê

Porque os fogos de artifício são apenas buquês
De flores envoltos no papel negro da noite.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Das folhas


As folhas rodopiando no chão
São crianças pequenas brincando de ciranda com o vento.

O que representa

Nossos sonhos hasteados no mastro da esperança
Tremulam quando abatidos pelos ventos da vida;
Mas mesmo a mais simples lembrança
Resiste a mais dura despedida!

Mesmo que em tempestades recolhida, a meio mastro,
Ela brilha na escuridão de nossos dias mais tristes;
Transpassa nosso coração como um astro
E deixa sua cauda onde a dor mais persiste!

Se ilumina dos sonhos apagados, e nos cantos
Mais afastados de nossos pensamentos nasce;
Parece formada dos cristais de nossos prantos!

E pelo Universo de nosso rosto escorre
E vai dar onde o sonho por mais que tente, nunca morre...
Como um cometa que de tempos em tempos retornasse.

Nicolas N.F.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Poesia

De que vale a poesia,
E as paixões sistematicamente destruídas,
Como flores esmagadas no asfalto de meu coração?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sobre o céu 2

O céu é um travesseiro de fronha azul que se espatifou em pleno ar...

Sobre o céu

O céu é um vestido rasgado de algodão.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Trocar palavras

As palavras se trocam entre si, como uma teia de sons;
Que prendem nossos pensamentos convulsos
Que afundam em nossa garganta em soluços
Levando de nossas palavras mais doces os tons.

Os lábios como ondas apagam os rastros
Das palavras escritas na areia de nossos sentimentos;
Sãos astros que se detém em nossos olhos por momentos
Como barcos que recolhem as velas de seus mastros...

Nossas palavras são como baldes cheios até a borda;
Deixam cair de nossos corações a água
Que de nosso peito transborda...

Até que a palavra de tua boca evapora;
E pelo silêncio flutua delicada como uma mágoa;
E em teu lábio sutilmente aflora.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Fragmentos

Outra vez o desengano a fragmentar nosso corpo, para que nunca o
tenhamos inteiro em tempo algum. O toque, que guarda do atrito o calor
sem a sua aspereza; que deixa na outra superfície apenas os seus
pedaços imaterias, que saem se quebrando em pequenas sensações em teus
pêlos, como um isopor ao contato com o muro áspero. Mas quando ti
estratificas em pequenas camadas que se perdem de vista não és mais
que uma cebola que se divide para esconder sua essência. Mas que mesmo
assim, que terna cebola...

E que importa que todos estejam ao teu lado, se mesmo com todas as
palavras ao seu redor, o "O" se sente vazio... Nenhuma palavra pode
preenchê-lo, pois sua essência está repleta de vazio. E a mulher mais
que todos os outros seres se faz repleta de vazios, que se desdobram
em tudo quanto existe.Pois tua boca a forma de um fruto enterrado em
teu rosto faz germinar a palavra, como uma lâmina que entalha o ar
dentro dela ao jogá-lo por entre teus dentes. Ninguém se apercebe da
beleza quando tu emite tuas palavras, és uma artesã do vento, daquilo
que a mão não pode segurar senão quando aberta.

E se assim as palavras forem espinhos em tua garganta, é porque então
ela é uma rosa ao avesso que floresceu no botão vermelho de tua boca.

domingo, 11 de setembro de 2011

Ser medieval

Teus olhos foram escritos em iluminuras
Onde um monge debruçou suas ternuras;
Fonte eterna para os corações de esperança
Colheita que apenas nos encantos do sonho descansa.

Teu toque é charrua a semear carinho,
Segue delicada por invisível caminho
Que desabrocha na boca em suspiros;
Palavras que se despem de suas roupas como lírios.

Em teus lábios se delineia a canção,
Como na terra se sabe da colheita
Pelos rastros onde a chuva se deita.

E quando em tua boca perfeito encaixe
Faz com que ela em beijo se rache;
Canta tua língua nos enlaces de teu coração.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Molecagem

As lágrimas são como pedras
Que quebram por dentro a janela
De teus olhos.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Quimono



Teus cabelos por sobre tua face
Caem como um dourado quimono;
A rosa que em teu lábio encontra disfarce
Em um riso devolve a primavera ao outono.

E a franja que teu rosto oculta
Forma o mais delicado okumi;
Tal como a bainha esconde a lâmina da luta,
Teu cabelo guarda de teus olhos o gume.

E embora não haja costura
Entre nenhum de teus fios,
Teu quimono soa como a melodia mais pura;

Assim também são as cordas de um violino
Que preenchem com acordes seus espaços vazios
Ao ecoarem a mais bela música de seu corpo feminino.



Obs.: Okumi é a maneira como o quimono se sobrepõe em duas peças, que podem recobrir uma a outra, dando fluidez a peça.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Olhos fechados

Nem sei o que esses olhos podem dizer assim;
São tão singelos fechados, delicados como uma rosa,
Que a noite, como uma mãe de uma criança chorosa
A recolhesse em seus braços, e como um manto, velasse teu jardim!

Por tênue pétala, se esconde o néctar de tua retina;
Que a manhã espera paciente; para levar em cada olhar
A lembrança que vai junto ao sentimento em outra flor semear
A semente de uma mulher, fruto de uma menina...

Toca a tuas pétalas rubras, delicadamente a luz
Que faz cair de cada canto do jardim teu orvalho;
Lágrimas a escorrer até o solo de tua boca...

E fico eu a olhar imóvel tudo, em uma rústica cruz,
Enquanto tu ti abres como um anjo, e deixa minha voz rouca,
Ao saber que nem voz tenho, sendo um mero espantalho...

Nícolas Nunes

sexta-feira, 4 de março de 2011

O toque

As palavras são a ausência do toque;
Linguagem sem sentido para o corpo
Que vê em cada dedo uma letra que desloque
De sua pele o sentido adormecido e torpo.

A letra só se forma pelo contato;
Como um lápis a percorrer o papel
Deixando a mão atrás de si um rastro
Igual ao rastro das nuvens a cruzarem o céu...

As palavras são toques ritmados
Que tiram da tua boca os suspiros abafados
Como uma flauta doce em meus lábios.

Os poemas são corpos soletrados
Um pelo outro devassados
Como uma flauta doce em teus lábios...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Origami



Teus lábios são como uma rosa de papel
Se abrem ao toque dos dedos,
Sendo seus beijos segredos
Espremidos entre dois céus.

Tuas lágrimas são vasos transparentes
Que guardam tuas palavras no ar esvaídas
Como folhas dos sentidos caídas
Em teus olhos indulgentes.

Carregas o silêncio de uma gueixa;
Estampado em tua mascará o sorriso
Que encobre teu soluço de queixa...

Tua alma toda é um origami
Teus gritos dobrados em silêncio preciso
Em teus lábios sem nenhum reclame...

Nícolas Nunes

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Soneto

Que o fio de tuas lágrimas seja
Como a corrente perolada de um abajur invisível
Que ao puxar de teus olhos a tristeza que aí esteja
Acenda em teus lábios um riso indizível.

Que os raios de Sol nas curvas de teus cabelos
Descansem de suas formas retas e intocáveis,
E que mãos sensíveis possam colhê-los
Como trigos maduros de campos inalcançáveis.

Que teus vazios sejam como espaços
Que permitam a sua costura
Com a linha branca de teus braços

Que entram e saem dos abraços
Deixando pontos invisíveis de uma sutura
Que na própria carne fecha seus laços.